domingo, 19 de agosto de 2007

A foto no poema é de uma amiga muito querida, a Melissa!


Estranho Poema

Cotovelos pousados sobre a mesinha
As mãos encolhidas em desalento
Uma no rosto apoiada,
Outra desce a tinta sobre o papel.


Há uma urgência de me expor
Mas as chagas fizeram-se tão fundas
Que estou mudo.


Relembro, então, uma cena de infância.
O dia seco, quente, nublado,
Na vitrola, um disco de Sinatra.
Eu avistava da varanda
O negror das nuvens sobre a Catedral.


Não era chuva.
Não era medo.
Hoje sei que era tristeza.
Nasci assim,
Triste.


De onde arranquei esse ar solitário,
Essa incomodação de mulher todos os meses?
Queria ser diferente, diversa.
Olho as outras.
Parecem tão felizes!
Realizadas.


Hoje pintei as unhas de vermelho framboesa.
Sangro assim desde que nasci!

Sem Título!



O azul cerúleo tinge meus olhos
com a fremência da criação.
O jovem vê a Lua e sonha
Dorme na música do instante.


A ansiedade arde o peito,
recolhe os ombros,
intumesce as mãos.
Sobre a nuca,
o peso da eterna criação.


Puxo o ar retesado no alto dos pulmões.
Pergunto-me por quê?
Noutras épocas não era assim.
A saúde fresca das hortaliças, dos frutos todos
nas maçãs do meu rosto.

Ainda vejo na paisagem
a mesma juventude,
a alegria.


Mudei minhas roupas?
O que fluíra, represou?
Tento vendar o que não quero ver?


Abro as janelas com a impaciência.
Afasto as cortinas como um temor.
E o sol vem dourar meus braços,
meu corpo sobre a cama,
minhas manhãs roubadas da inexperiência de viver.





Este aí tá fresquinho...escrevi agora: 00:10, 19/0/07

Agosto

A fumaça das queimadas precipita sobre a cidade
O ar frio da noite que entra.
O vento bate, arranha meu rosto
Ranhura de galhos secos.
Gosto de espinho na boca.
As flores explodem pelos caminhos,
erraram a época para enfeitar meus olhos
- amarelas, brancas, lilases, carmim.

O caminho é o êxtase completo.
A Lua vaga coroa minha cabeça
brincando de rodopiar.
Abro meus braços num abraço
acaricio o vento, a paisagem.

Aquele planeta que finge de estrela me chama
e, no meu peito, a urgência da criação,
feito ardência,
ansiedade,

feito choque.

Nos segundos,
A noite termina sua entrada
A alegria do encontro entre sol e escuridão se foi
Na minha impaciência
a vinda das próximas horas,
a madrugada,

a fome,
o bocejo de todas as manhãs.