domingo, 10 de fevereiro de 2008

Sempre tive dúvidas, mas hoje sei que eles existem... Os anjos! É sim, anjos...

Um poema de que gosto tanto é O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro, um heterônimo de Fernando Pessoa que diz exatamente o que eu sinto ou senti por um longo período da minha existência. E sei que ainda vou continuar pensando nisso, pois tenho alma perscrutadora, cética. Mas vamos lá!


"Eu nunca guardei rebanhos...

(...)Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,


Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende. (...)


"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.

E incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,

Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
Esse poema é o único que me pode explicar e trazer a vocês a experiência que tive hoje,
quando fazia mais umas das minhas inúmeras caminhadas...

Encontava-me triste, ansiosa, descontente.
Uma razão, foi que minha sobrinha foi embora para São paulo, fazer cursinho. Indiretamente, a alegria que sentimos por alguém estar seguindo o seu caminho, vem mesclado de tristezas, uma profunda tristeza. Não sabemos o que vamos encontrar pelo caminho. E sofremos pelos mais novos, pelos filhos, pelos sobrinhos, pelos mais chegados. E isso, creio hoje, que injustamente. Não é necessário o sofrimento. Nem a angústia.

Mas vamos a minha outra angústia - a do trabalho. Estivemos num longo período de férias, neste ano prolongado pelo Carnaval e algumas resoluções - que nos salvaram!
Ultimamente, lecionar transformou-se numa tarefa árdua e estafante. Enlouquecedora. E como todos, não poderia de me deixar envolver nessa torrente!
Vamos lá, continuando à experiência...
Estava subindo o meu velho caminho, no mesmo Bat horário, sem mesmo observar o que acontecia ao meu redor - só olhava pra dentro, no meu umbigo - é, no meu umbigo mesmo. Sinceramente, só olham para o umbigo aqueles que sofrem e querem continuar sofrendo. Porém, como não sou boba nem nada.... Ia virando a esquina, resolvi mudar de caminho e, de repente, senti um vento muito fresco bater no meu rosto, nas minhas costas, no meu corpo todo. Pensei comigo: "isso é o sopro de um anjo!"
E não é que era mesmo, sô!
E era.
Olhei a paisagem, os últimos raios de sol alaranjavam o horizonte, fechei os olhos e me imaginei numa rampa, no topo de um monte, observando essa paisagem.
Nesse momento fui inundada por uma aura de felicidade suprema, que há muito não conseguia sentir.
Abria os olhos e tornava a fechá-los. Via-me encostada no ombro de uma pessoa que não conseguia ver o rosto... mas ele estava comigo, era um moço, bonito, que me transmitia imensa felicidade e plenitude.
Continue subindo o morro, abaixei a cabeça, e pelo rabo do olho, num átimo, percebi uma aura, como num movimento de água, passando pelos ramos logo à direita. Ali, bem neste momento, tive a certeza de que não estamos sozinhos no Universo, nem mesmo nesta minha vida que acho um tanto sem sentido às vezes...
Olhei para o alto, como olham as pessoas plenas de alma e sentimento. As cores da cidade tornaram mais intensas, as flores, o capim, o verde das montanhas. Até mesmo o cinza das chuvas que iam ao longe. Toda a dor física que sentia foi-se, minha respiração voltou ao normal, respirava aliviada. Tive vontade de chorar. Chorei um pouquinho. Senti-me forte novamente e renovada. Meu medo foi-se e, de volta, recebi a coragem de enfrentar o meu trabalho, a felicidade de viver um pouco esquecida.
Mais abaixo, peguei um pedra branca e redonda, limada pela erosão das águas para me lembrar deste dia. Para que eu nunca me esqueça que não estou mais só. Estou acompanhada por uma alma boa designada por Deus para facilitar o meu caminho, que nunca foi fácil...

... o sopro de um anjo veio me falar oi esta tarde e foi lindo!