Comentava com uma amiga, ao completar 51 anos, que parecia que nos últimos dez anos da minha vida eu ainda continue presa a algumas situações e pessoas que não deviam existir mais. A sensação é de que fiquei parada no tempo e não fizera nada para reagir contra isso. Enquanto falava, entra um outra pessoa que ficara presa ao meu passado-presente por décadas e insistia ainda em fazer parte da minha vida. Pude perceber que, dentre essa mistura de pessoas, o tempo não representou nada. Elas ficaram como se estivessem existindo naquele instante, insistindo...
Mudamos os meses, os dias numa sucessão de horas incontáveis, mas ficamos presas à teia caprichosa do tempo. Que na realidade é relativo, inexplicável, sabemos que devemos ir dormir quando o Sol se põe e acordaremos ao nascer do Sol... E o tempo que se define como a sucessão dos anos, dias, horas, que envolve a noção de presente, passado e futuro, nos prende no instante imediato que conhecemos tal pessoa, ou que acontece uma certa tragédia ou num momento bom demais. Tempo deveria ser sinônimo de tecer - entrelaçar regularmente os fios, engendrar, armar, compor entrelaçando, enredar-se. Vê que definição mais apropriada, porque tempo não tem uma sinonímia tão correta como tecer. Engendrar significa criar, gerar...
Neste instante acabo de perceber que todos estes 51 anos que vivi, as horas correram, fluíram-se os minutos, mas nada foi gerado de novo, apenas foi uma repetição de pessoas, acasos, profissão.
Pessoas passaram, mas ficaram. Como se o tempo fosse caprichoso e não deixasse que eu engendrasse com a força dos meus dedos mágicos novos caminhos. Eu não lutei contra isso. Dancei como uma menina de sete anos com fadas, duendes, num vórtice de estrelas e brilhos.
Não sinto que isso tenha se acabado, essa luz do sonho que nos deixa intactos, que também deveria ser sinônimo de tempo.
Se vivi? às vezes não sei dizer! Mas hora ou outra aparecem a minha porta pessoas contanto coisas ou espaços do meu tempo e que fui lhes muito cara. Depois se esvaem como se eu continuasse a dançar naquele instante entre fadas, duendes e brilhos de estrelas, vórtices do tempo. E parece que ele nem passou!
Sobre a folhinha do tempo o que posso dizer é que hoje faz uma tarde linda de sol, ar fresco e já são 3 de Janeiro. Quando vê já estamos no Natal novamente, felicitando pessoas pelo Ano que já vai passar e um outro, e mais outro e outro ainda.
Enquanto isso fazemos a estranha reflexão: será que vivemos?...