sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Janeiro

Da janela um ar frio entra
trazendo de longe  sementes de dente-de-leão
que se disseminam sobre as teclas do meu notebook.
São pequenos para-quedas trazidos pelo vento de amor-de-homem,
designação não meramente desastrosa, 
pois coração de homem é assim mesmo-
porta, botequim, cachaça brava, pimenta nordestina
e amor pra todo lado.
Enquanto que chorosas ficam flores carmesinas
estendendo-se rastejantes, chorão-das-praias.




As nuvens, cinzas rosadas denunciam clima controverso
não sabem mais quem são ou se é inverno?
Sopra um frio não comum,
É um janeiro de  flores de outras estações. 
Meu coração bravamente 
endurece novamente
finge que é dormente um amor 
que nunca sente.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Tristeza profunda

Estou muito triste hoje. Passei assim o dia todo entre lágrimas e risadas, uma montanha russa de sentimentos que se mesclaram, mas perdura o luto.Como se eu tivesse enterrado alguém muito caro em minha vida. A sensação de que se é uma poça d'água também permanece. Liquidificou-se alguma parte de mim a qual não sei bem, não me dei conta dela ainda. Custará mais alguns dias? meses? ou anos para que eu tome a devida sensação de que algo aconteceu neste dia de hoje.
Os sentimentos imediatos são obscuros e enigmáticos, depois de anos vamos dar conta de que algum farrapo ficou daquilo tudo e saberemos dedilhar como as letras de uma cartilha quando se tem sete anos de idade. Hoje, aos seis, cinco anos de idade, porque tudo corre. A urgência do tempo devora todas as fases que antes eram determinadas e comportamentais, condicionadas. Mas não devora o amor, este só fica corroendo corações, mentes e fronhas de travesseiros. Galos cantam pela imensidão da noite. Antes eu gostava de ouvi-los porque acordava em paz e sabia o que ia fazer no outro dia. Era como se tudo  estivesse no seu devido lugar, a mesa posta para o café às 6 da manhã, o caminho para a escola, os alunos, a lousa, as palavras de anos repetidos.
E as melodias tristes que tenho ouvido contam histórias que vivo, não são imaginações como me contava um mestre das línguas nos tempos de faculdade. Antes fossem magias, lendas, contos de fada...
Minha alma é triste como dizia um poeta que nem me lembro bem e que  faz parte das minhas madrugadas de trovador bêbado.
Um grito abafado soa entre meus braços e o violão que tenho guardado atrás da porta - nem pra isso me dei! sonhos, sonhos, vontades, mas a tristeza pegajosa dos dias sai como uma gosma verde a maltratar minha pele.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O Tempo - um grande vilão!?

Comentava com uma amiga, ao completar  51 anos, que  parecia que nos últimos dez anos da minha vida eu ainda continue presa a algumas situações e pessoas que não deviam existir mais. A sensação é de que fiquei parada no tempo e não fizera nada para reagir contra isso. Enquanto falava, entra um outra pessoa que ficara presa ao meu passado-presente por décadas e insistia ainda em fazer parte da minha vida. Pude perceber que, dentre essa mistura de pessoas, o tempo não representou nada. Elas ficaram como se estivessem existindo naquele instante, insistindo...
Mudamos os meses, os dias numa sucessão de horas incontáveis, mas ficamos presas à teia caprichosa do tempo. Que na realidade é relativo, inexplicável, sabemos que devemos ir dormir quando o Sol se põe e acordaremos ao nascer do Sol... E o tempo que se define como a sucessão dos anos, dias, horas, que envolve a noção de presente, passado e futuro, nos prende no instante imediato que conhecemos tal pessoa, ou que acontece uma certa tragédia ou num momento bom demais. Tempo deveria ser sinônimo de tecer - entrelaçar regularmente os fios, engendrar, armar, compor entrelaçando, enredar-se. Vê que definição mais apropriada, porque tempo não tem uma sinonímia tão correta como tecer. Engendrar significa criar, gerar...
Neste instante acabo de perceber que todos estes 51 anos que vivi, as horas correram, fluíram-se os minutos, mas nada foi gerado de novo, apenas foi uma repetição de pessoas, acasos, profissão.
Pessoas passaram, mas ficaram. Como se o tempo fosse caprichoso e não deixasse que eu engendrasse com a força dos meus dedos mágicos novos caminhos. Eu não lutei contra isso. Dancei como uma menina de sete anos com fadas, duendes, num vórtice de estrelas e brilhos.
Não sinto que isso tenha se acabado, essa luz do sonho que nos deixa intactos, que também deveria ser sinônimo de tempo.


Se vivi? às vezes não sei dizer! Mas hora ou outra  aparecem a minha porta pessoas contanto coisas ou espaços do meu tempo e que fui lhes muito cara. Depois se esvaem como se eu continuasse a dançar naquele instante entre fadas, duendes e brilhos de estrelas, vórtices do tempo. E parece que ele nem passou!


Sobre a folhinha do tempo o que posso dizer é que hoje faz uma tarde linda de sol, ar fresco e já são 3 de Janeiro. Quando vê já  estamos no Natal novamente, felicitando pessoas pelo Ano que já vai passar e um outro, e mais outro e outro ainda.

Enquanto isso fazemos a estranha reflexão: será que vivemos?...