domingo, 22 de junho de 2008

O tempo não pára, não pára, não.... Não pára!

Saí pra caminhar mais uma vez. O domingo está terminando. Eu gosto de caminhar quando algo me deixa sem esperança ou de alguma maneira me tira o conforto. Sempre que retorno delas, estou mais feliz do que as havia começado.
Hoje, fui novamente àquele pé de Alecrim que tem no jardim do bairro Nova Floresta. Gosto de caminhar naquela avenida e sentir o cheirinho do vento quando bate em sua floração . Recordo da minha infância, de quando minha avó fazia quitandas e varria o forno de barro com vassouras desse Alecrim do Campo. Ele me faz pensar na poesia de Adélia Prado que diz assim:


“Nasceu no meu jardim um pé de mato
que dá flor amarela.
Toda manhã vou lá pra escutar a zoeira
da insetaria na festa.
Tem zoada de todo jeito:
tem do grosso, do fino, de aprendiz e de mestre.
É pata, é asas, é boca, é bico, é grão de
poeira e pólen na fogueira do sol.
Parece que a arvorinha conversa.”
ANÍMICO, de Adélia Prado
....e me recordo também das pessoas que passaram e passam pela minha vida que têm certa “parecença” com esse pé de mato tão encantador, tão suave. As suas florinhas não são amarelas, são brancas e têm um forte perfume de mel. Faz tempo que passo por ele, uns 4 anos ou mais. Era pequenino, confundia-se com os outros matos do caminho... Hoje está um pouco maior do que eu, com sua “ensetaria na festa”, derrubando poeira e grãos de pólen, bêbedas de aroma e de mel.
Esse Alecrim mexe comigo, como a saudade... “O que me dói não é /O que há no coração / Mas essas coisas lindas / Que nunca existirão... (versos de Fernando Pessoa) aquilo que poderia ter sido e que não foi por inocência, imaturidade, por falta de aprendizado. Quando jovens, não percebemos o tempo e as pessoas; envelhecidos, perdemos esse tempo, ele não volta. Somos tudo aquilo que éramos, mas o tempo é um vilão, tira-nos a vida do que poderia ser para sempre. Então, desanimados, fechamos o livro, observamos a paisagem e sonhamos com outras vidas, com atos mais instantâneos, menos conservadores. Não estou me sentindo velha, só lamentando as pessoas que passaram pela minha vida e não ficaram como eu gostaria que ficassem. Que não fossem embora!
... mas elas se vão, como eu deixei a vida de muitas. Seria bom se pudéssemos guardá-las em nossa caixa de recortes e quinquilharias de lembranças para sempre. Mas para sempre é também um tempo muito longo, e às vezes me pergunto ‘por que as pessoas ficam? ‘O que faz com que elas fiquem?’ Talvez as tenham mandado embora através das mensagens do meu mundo incomunicável, secreto, privado. Eu gostaria que tivessem ficado como a paisagem que vejo todas as tardes quando caminho – o céu e suas nuances multicores, o Sol descendo atrás das montanhas , a Lua, as estrelas e meu pé de Alecrim cheiroso....
Às vezes tenho a impressão que essas pessoas que se foram, quando fica ruim do lado de lá, lembram-se do lado de cá e vêm beber a água limpa da minha fonte que os tempos modernos não poluíram. Eu tenho um outro amigo que sempre me liga ou vem aqui na minha cidade só pra me ver e conversar, pois diz que eu pareço uma fazenda, cheia de flores e capins cheirosos, cheia de vida e de lugares próximos da saudade. Eu gosto dessa definição, não existe coisa mais romântica pra se descrever alguém. E quando fica ruim do lado de lá, como ele diz, ele foge pro lado de cá pra relembrar que a vida é bonita e colorida como só os meus olhos sabem ver...

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