A lua chegou entristecida
Sob nuvens esparsas na noite quase fria
Os ares do verão não fizeram quebrar essa tristeza.
Entristecidas de pensar,
Cada janela, cada porta, cada poste da cidade
Aquietava-se por entre as vielas tortas e suas
Ruas íngremes das casas ancestrais.
De longe vê-se o rosa antigo daquele casarão
E perdido dentro de suas janelas
A virgem que teimava chegar a elas todos os dias.
Esperava aquele que nunca veio.
Nas procissões da Semana da Paixão
As velas clareavam as faces, os véus,
os vestidos pousados nos corpos
com perfeição tão suprema que extasiava Maria
e Maria esquecia o porquê de estar ali.
Maria via a procissão passar
Cantava as dores de Nossa Senhora
E esperava, esperava o dia de sábado como um aleluia!
O Domingo, o mais pagão de todos os dias!
Maria alegrava-se como a ressurreição de Cristo!
Cristo! Quando ele vem?
E esperava, esperava...
Os outros meses que se seguiam
Outras festas, outras lamúrias,
Páginas do calendário santo se iam com as horas medidas a fio.
Só ele não veio.
E de Maria se souber apenas que morrera virgem, santa e só.
E hoje, quando olho a cidade aqui do alto
E a Lua entristecida,
Vejo os casarões,
As muralhas,
As pedras dos caminhos que receberam boi, cavalo, Ford Bigode,
Jardineiras, e carros velozes
Penso que Maria sou eu!
Pura, santa e esperançosa.
Pobre Maria...
Pobre de mim.
Guaxupé, 12 de Janeiro de 2006.
Quinta-feira, Lua Crescente, meio frio, pouco calor...