sábado, 27 de março de 2010

Revoada de Pardais



















Nem imagino onde eles estão agora
Era mais fácil quando vestiam o pijama
E pedia a história do elefante azul
Parece que restou um cheirinho de talco na almofada do quarto
Deve ser só impressão
Nesse tempo, eu não tinha medo da noite
Ela era o telhado dos poetas
As sombras eram apenas  a franja mal-aparada dos anjos
A trava na porta me bastava
Hoje, as camas vazias me assustam
Elas acusam o passar das horas
E denunciam a revoadas dos pardais
Os meus pardais
Já não posso abrir minhas asas sobre eles
São pequenas demais para cobri-los
Frágeis demais para defendê-los
Ainda bem que me resta a prece
Minha aliada nos dias de nuvens e nas madrugadas  sem fim
Peço perdão pela insistência
Mas reza de mãe é assim mesmo
Pura perseverança
Que Deus abençoe minhas crianças
De barba na cara e calçado 42
O resto da vida é secundário
E fica pra depois
Que as ilumine com seu sorriso
E se preciso acione seu séquito de estrelas
Se tiver que usá-las
Prometo devolvê-las
E quando o cansaço me quiser já recolhida
Hei de poder sorrir pela missão cumprida.

Flora Figueiredo

Dizem que ando alegre demais...

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Não seremos marido e mulher
Nem mesmo amantes
Que tal apenas namorados intermitentes
Docemente nos  amando itinerantes
Trocaremos afagos
Quando o dia amanhecer na encruzilhada
Deixarei em você meus cheiros de mulher
Lançaremos olhares disfarçados
Que certamente passarão despercebidos
Pois namorados são de deuses os protegidos
Quando nossas mãos orçarem-se furtivas
Vão insinuar desejos abafados
Pelas regras da vida censurados
Mas que são flores no canteiro
Sempre-vivas!
Ao nos encontrarmos pela tarde rua acima
Lá, onde a mangueira domina a rotatória
Assinarei um verso sublimado
A grafitar nossa parede divisória...
Flora Figueiredo