quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

BIG BROTHER BRASIL, por Luís Fernando Veríssimo



Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço...A décima primeira (está indo longe!) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil,... encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
Dizem que em Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos, na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE...
Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo.
Eu gostaria de perguntar, se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis?
São esses nossos exemplos de heróis?
Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros: profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados..
Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia.
Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.
Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada, meses atrás pela própria Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral.
E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social: moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?
(Poderiam ser feitas mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores!)
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.
Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir.
Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construída nossa sociedade.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Quando assito à novela O clone, dá-me uma vontade de casar...


 
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva. 

Adélia Prado

domingo, 2 de janeiro de 2011

O primeiro dia que termina...



Com uma chuva malemolente terminamos o dia, aquele que poderíamos chamar de estréia de um novo show, de um novo cargo, de uma nova vida. São 23:33 de uma noite meio fria por causa da chuva que para muitos é uma sonata para o descanso do primeiro dia de trabalho e o que nos espera os outros novos 364 dias do ano. Mais um ano, mais uma expectativa, mais um futuro a se planejar, mais um...
Hoje foi um dia especial assim como todos os primeiros dias dos anos que começam, e ainda mais especial porque a primeira mulher toma posse como Presidenta do nosso amado país.
Senti-me emocionada durante a posse e as palavras de Dilma. Emoções à parte, sei que teremos mais 364 dias para aplaudirmos ou decepcionarmos com o seus novos dias de inauguração, pois a cada manhã nos inauguramos para o novo, recomeçamos cada dia como se fosse o único de nossas vidas. Sem exageros. O vinho, as novidades, a chuva, o reinaugurar-se, deixa-nos emotivos, sensíveis com as palavras e com vontade de tomarmos mais um cálice de vinho.


Enquanto tomava meu banho de final de noite, pensava comigo que a mulher de poder é um ser solitário. Embora Dilma estivesse acompanhada por sua filha, Michel Temer era ladeado e guardado por sua esposa. E assim como Lula, dona Marisa o protegia e protegeu durante todos os oito anos de mandato.


Dilma não. É exceção, já que mulheres no poder são exceções. Em países machistas como o nosso em que metade ou mais dos homens não admitem mulheres no poder, saudemos a exceção e comemoremos a sagacidade da maioria, que é mulher no Brasil,que deixou seu lado patriarcal e o jugo com que foram criadas e acreditaram que ela seria capaz de governar este país.


Eu parabenizo a mim e ao povo brasileiro que começa a mostrar que está mudando. Mas precisamos de mais mudanças - uma básica, que é a de culpar o governo de tudo o que nos acontece. Sei que hoje é um dia diferente de todos que eu já inaugurei na minha vida. Não sinto a empolgação fraca da mudança, mas a consistência das palavras e de uma nova gestão no ar.


Voltando ao poder e a solidão que ele nos remete, sinto que Dilma sofrerá muito mais do que Lula, muito mais do que qualquer estadista que governou o mundo e este país, porque será mais cobrada de suas ações e, sobretudo, porque é mulher!


Uma mulher que com passos curtos subiu e desceu a rampa do Planalto sozinha. Havia um quê de desamparo... Atrás da fortaleza daquela mulher há uma outra que sonha com os carinhos do amante e também de chegar em casa e brincar de fazer castelos de cartas com seus netos. Há o aconchego inerente à raça, os braços que aninham e amamentam, a mulher que cozinha e faz bolinhos de chuva para a criançada da casa e os amigos que vêm junto!


Em um de suas palavras ela salientou que em seu mandato haveria a força, mas também o carinho da mulher que acalenta, da mãe, daquela que alimentou seus filhos. É nisso que reside sua força - a mão que balança o berço, é a mão que governa o mundo! E disso ela sabe muito bem.


Infelizmente Dilma não terá muito dessas coisas, pois é uma mulher de poder, temida pelos homens, mal entendida pela maioria das outras mulheres...


Cabe, agora, a nós a ajudarmos, fazendo a nossa parte de cidadãos, investindo em nossos filhos, em nossas gerações futuras, em nossos alunos...
Cabe a cada um brasileiro dar um pouco de seu ombro, pois ela precisará de muitos para chorar e descansar seus fracassos e vangloriar suas vitórias!